Na vida, dançar conforme a coreografia é quase uma obrigação. Quem não caminha de acordo com o movimento tende naturalmente a se omitir. A exclusão da sociedade com quem tem deficiência física é alta: são ruas inapropriadas, intolerância no trânsito, preconceitos no mercado de trabalho e locais não adaptados. Em suma, é necessária a construção diária de respeito e inclusão para quem vive na condição de andar sobre uma cadeira de rodas ou por ter qualquer outro tipo de problema físico. É nadar contra uma forte corrente.
Nessa esfera, a apresentação do grupo Corpo em Movimento, no último dia 28, mostrou a importância do trabalho social de integração por meio da vida artística em pessoas portadoras de deficiências físicas. Com uma proposta de levar a dança mesclada entre andantes e cadeirantes, a beleza da integração se faz, levando o público presente no Teatro Municipal Inah de Azevedo Mureb a ter uma noite privilegiada, em que a vitória e o reconhecimento foram celebrados.
Entre samba, dança de rua, rock, música contemporânea, valsa, tango, entre outros tantos estilos executados carregados da mais amorosa expressão, a união dos corpos em movimento se fazia em frente a uma enorme plateia, que aplaudia desde o início cada ato como se fosse o último. Um passeio pela história do cinema, que, atrelado à dança, deram suas cores em uma plena quarta-feira cinza, fria e chuvosa.
O projeto é realizado pela Associação Niteroiense de Deficientes Físicos, a ANDEF, que foi idealizado por Tania Rodrigues, vereadora de Niterói. Diferente da APAE, que trabalha com deficiência neurológica, o grande foco da ANDEF é a inclusão, tanto por meio do esporte, quanto para a arte e a capacitação ao trabalho através de cursos profissionalizantes.
Em um tour por Cabo Frio, Tania procurou avaliar a condição oferecida às pessoas com deficiência física, o que normalmente não a agrada:
– Cabo Frio, apesar de apresentar acessibilidade principalmente na orla da Praia do Forte, ainda precisa de muito para ser uma cidade acessível. Mas infelizmente não é só em Cabo Frio que temos este tipo de problema – conta ela, com o intuito de estimular os deficientes físicos da cidade a lutarem pelos seus direitos de ir e vir.
Com o sucesso do evento, a organizadora Nilzete de Oliveira celebra a conquista, realizada com muita força de vontade da parte dela e de seu grupo, com o desejo de dias melhores para a realidade cabofriense:
– Nosso grupo é composto só de deficientes. Organizamos esse evento para que não só a dança, mas todo o trabalho da ANDEF venha para Cabo Frio atender as pessoas com deficiência que residem na cidade – conclui Nilzete, que é estudante de Serviço Social e cadeirante há mais de 20 anos.
Isso pode não ser uma tarefa fácil, porém, a noite do dia 28 serviu como brilho aos olhos de quem assistiu a apresentação, dando, através da arte, uma chama fundamental para a esperança àqueles que vivem dramas semelhantes, de que é possível achar o seu espaço em meio a uma sociedade excludente.