Se existem duas palavras que resumam bem a vida da escritora e artista plástica Ambrosina Coradi, ela são Coragem e Perseverança. A maranhense, nascida na cidade de Carolina, migrou cedo para o interior de Goiás e, desde então, não saiu do centro-oeste do Brasil. Foi lá que se formou em pedagoga e dedicou anos à docência. Depois de aposentada, decidiu dedicar-se às artes plásticas e ousar no mundo das letras, sendo participante, inclusive, da antologia Multifacetadas, produzida pela Editora Comunicação. Em entrevista à nossa equipe, ela contou um pouco de sua trajetória e das dificuldades que contribuíram para seu crescimento como pessoa e como profissional.
Tendo nascido no Maranhão e migrado para Goiás junto à família, como se deu a formação profissional no estado que a acolheu?
Em Goiás, minha família morou no interior. O curso primário fiz em Rubiataba, mas parte dele estudei em casa, com professor particular, pois não havia escolas na cidade. Mais tarde, em 1958, concluí o curso primário em escola pública. Em 1959, fui estudar em Itapaci, num Internato de Freiras Francesas. Depois passei pelo Colégio Assunção e lá fiz o ginasial. Minha formação a nível superior se deu na Universidade Federal de Goiás, onde cursei pedagogia. Anos mais tarde, depois de aposentada, consegui estudar Educação Artística e Artes Plásticas, me formando em 1995.
Em que momento de sua vida decidiu tornar-se escritora?
Em 2011, recebi um prêmio em Artes Plásticas.
Tempos depois, me convidaram para participar de uma antologia. Eu sempre insisti em frisar que não era escritora. Quando escrevia, meu filho corrigia meus textos, mudava tudo e me desestimulava, dizendo-me que isto não era minha praia. Os convites chegavam e eu resolvi atendê-los. Não mostrei nada para ele e, desde então, nunca mais parei. Participei de várias antologias e estou entusiasmada.
Em 2013 escrevi História de Família, em 2014 dois livrinhos infantis: O Patinho Azul e A Boneca de Minha Avó, neste ano estou participando da antologia da ALAB, da antologia Multifacetadas, dentre outras. Também estou escrevendo um livro chamado Milagres da Vida.
Você formou-se em pedagogia e deu aula durante muito tempo. Quais foram as dificuldades enfrentadas na educação brasileira?
Iniciei no magistério muito nova, antes de concluir o Curso Normal. Era 1962. Morava no interior de Goiás e lá não havia professores formados para atender à demanda de alunos. O início foi como um estágio que completava minha formação, pois ainda recebia orientação e acompanhamento de professores habilitados da escola em que eu estudava. Em 1965, ingressei na Faculdade de Pedagogia e fiz parte da primeira turma da UFG de Goiás. Concluí em 1968. No ano seguinte, transferi-me para Brasília, onde dei continuidade à docência. Além de dar aulas, fui também Assessora Educacional no Ministério de Educação durante dez anos, lá eu trabalhava com projetos educacionais junto aos Estados e, desta forma, pude perceber de forma dobrada, todas as dificuldades que a nossa educação passou e vem passando.
O sistema educacional público não consegue ultrapassar os problemas. Faltam professores qualificados e, às vezes, a escola sequer tem a quantidade de funcionários necessária. Além disso, são mal equipadas e não atendem às necessidades dos alunos; faltam recursos didáticos mínimos e materiais de consumo para manter o bom funcionamento das instituições. No Nordeste, também contamos com a falta de escolas. Enfim, ainda falta muita coisa essencial para dizermos que garantimos uma educação de qualidade a nossas crianças, adolescentes e jovens.
Depois de aposentada, você decidiu se dedicar às artes plásticas. O que a levou a tomar tal decisão, tendo em vista que, infelizmente , o Brasil não reconhece seus artistas? Em algum momento se arrependeu?
A escolha foi atrelada ao desejo de fazer alguma coisa mais voltada para o artesanato, pois no currículo do colegial da minha época aprendia-se a bordar, pintar, desenhar, costurar, etc. Chamavam de Educação para o Lar. O curso de Arte Plásticas foi muito interessante naquele momento em que estava recentemente aposentada. Dediquei-me a ele de forma integral. Tudo era novidade: novos conhecimentos, jogos, danças, representações teatrais. Quando concluí, resolvi fazer novo concurso para professor, passei e dei aulas por mais alguns anos. Depois pensei em ficar só como artista. Aí veio a decepção: artista só gasta fazendo arte. As tentativas de vendê-la são frustrantes. Se tem uma galeria como intermediário, a comissão é alta. Se vendem uma obra, demoram a pagar ao artista… Fazer uma exposição individual sai tão caro que muitas vezes não compensa o investimento. A exposição coletiva, às vezes, significa só mostrar a obra.
Participar de catálogos e mandar obras para outros lugares nunca trouxe retorno algum, só mais gasto. Apesar de tudo, ainda tenho o desejo de fazer arte. Continuo fazendo minhas esculturas e pintando menos. Sinto necessidade de trabalhar. No momento, trabalhar num atelier com outras pessoas me dá prazer e não tenho vontade de parar.
Como foram os retornos das exposições para você?
Nas exposições individuais realizadas sempre consegui vender bastantes quadros e esculturas. As exposições através de galerias foram positivas no sentido de vendas, mas o retorno financeiro é muito demorado, pois demoram a repassar a parte do artista.
As exposições coletivas são apenas para currículo, para mostrar -nos como artistas, sem quase nenhum retorno remunerado. Ao contrário, temos despesas com coquetel, transporte,convite etc.
Se pudesse dar um recado a todos os jovens hoje, qual seria?
Meu recado é o seguinte:
Não importa onde você estuda, se a sua escola é boa ou ruim, se você é de família pobre ou rica, coloque na sua cabeça que você pode chegar onde quiser, tudo depende de si mesmo. A caminhada da vida humana está cheia de exemplos de homens que venceram na vida pela tenacidade e pelo desejo de ser alguém relevante. Homens que estudaram, formaram-se em doutores, tornaram-se empresários, presidentes de países e outros cargos importantes à custa de muitos suores, muitas dores, muitas dificuldades, mas com a vitória no fim. Lutem pelos seus sonhos, jovens!