O dia começou diferente em Cabo Frio. O céu fechado refletiu bem o clima político desta quarta-feira. E o famoso “bom dia” do prefeito — o web celebridade da cidade — desapareceu do feed. Silêncio. E o silêncio, nesse caso, fala alto.
A Polícia Federal deflagrou a segunda fase da Operação Teatro Invisível, que investiga o uso de recursos públicos para impulsionar conteúdos políticos e manipular o debate público. A primeira fase, em setembro de 2024, passou despercebida pela imprensa local — que só agora, diante da pressão dos internautas, resolveu falar do assunto.
Mas até isso foi feito com cautela exagerada: matérias sem o nome do prefeito, vídeos sem som, e um malabarismo jornalístico que só confirma a parcialidade de quem deveria estar do lado da verdade. E é importante lembrar: essa mesma operação pode, em breve, alcançar blogueiros e veículos de comunicação alinhados com a máquina de fake news e o silêncio programado. A imprensa local precisa tomar muito cuidado com os passos que escolhe dar — ou não dar.
Hoje também teve um outro revés, né? A Justiça suspendeu o decreto 7.475/2025, que elevava a taxa de ônibus de turismo sem qualquer diálogo prévio com o setor. Uma medida que, mais uma vez, expôs a dificuldade da gestão em construir consensos e ouvir os impactos das suas decisões.
Para completar o cenário sombrio, em semanas consecutivas Cabo Frio volta às manchetes nacionais. Na semana passada, foi com o escândalo do envio de pessoas em situação de rua para cidades do Espírito Santo, sem que fossem naturais ou residentes de lá. Agora, o foco é o imbróglio envolvendo a nova fase da operação da Polícia Federal.
A cidade está mergulhada em uma crise de transparência, ética e comunicação. A política virou palco de vaidades e espetáculo de marketing. Enquanto isso, o povo enfrenta o peso de decisões autoritárias que desrespeitam a democracia e excluem a população.
Cabo Frio merece mais do que “bom dia” performático e stories ensaiados. Merece governo com verdade, imprensa com coragem e uma gestão que olhe para as pessoas — e não apenas para os números da curtida.