No vídeo teaser lançado pela Netflix, uma mulher negra que parece ser uma locutora de rádio fala ao microfone duas listas de fantasias de Halloween. A primeira lista, são as fantasias totalmente aceitáveis para pessoas brancas “pirata, enfermeira, qualquer um dos primeiros 43 presidentes americanos…”. E a segunda lista, sobre fantasias inaceitáveis, é curta e direta. Logo no topo, a mulher diz “eu”. Sendo, então, seguida por inúmeras imagens de homens e mulheres brancos com o rosto pintado para parecerem negros. A mensagem que a série Dear White People quer passar é clara: uma crítica a tradição do Blackface.
Surgido no século XIX nos shows de menestréis, nos quais atores brancos se pintavam de preto usando carvão de cortiça para representar personagens afro-americanos de forma pejorativa. O Blackface é uma maneira de reforçar estereótipos racistas. Apenas por volta de 1960, com o crescimento dos movimentos dos direitos civis, esse tipo de atitude começou a entrar em declínio. Mas, infelizmente, não foi completamente extinta.
Mesmo com todo esse contexto, muitos assinantes da Netflix se sentiram ofendidos pelo conteúdo do teaser. Passando a avaliá-lo negativamente, além de muitos ameaçarem cancelar o serviço. Alguns vídeos, postagens e comentários extremamente negativos passaram a surgir. Alguns até mesmo fazendo ofensas preconceituosas direcionadas às “queridas pessoas negras”.
Mas sobre o que exatamente Dear White People se trata?
A série acompanha a história de um grupo de negros que estuda na faculdade de Winchester, um ambiente majoritariamente branco. O nome do seriado vem de um programa de rádio apresentado pela protagonista, que visa abrir os olhos dos estudantes e denunciar casos de racismo no campus. Com um humor afiado, cheio de sarcasmo, o seriado aponta os diferentes problemas enfrentados no dia a dia. Além de mostrar que os negros não são os únicos que sofrem racismo: uma jovem asiática acaba por se unir ao grupo, de forma natural, até que de repente todo mundo entende o motivo.
Dear White People também mostra que não há apenas diferenças de privilégio entre brancos e negros. Dentro da comunidade negra, que é muito diversa, há quem se dê melhor do que os outros. E um dos pontos altos da série é a humanização de seus personagens, mostrando que há diversos grupos e quebrando todos os estereótipos existentes.
Infelizmente, como a própria série mostra, existe um incômodo em ser identificado como preconceituoso, se recusando a ouvir e aceitar as críticas. O que impede que os principais beneficiários dessa discussão sejam atingidos por completo pela série.